Ainda que reajuste do diesel pareça tímido e que haja corte nos preços da gasolina, analistas veem saldo final como positivo

Poucos minutos após o CEO falar que a Petrobras (PETR3;PETR4) estava “no limiar” de fazer um reajuste nos combustíveis, a estatal anunciou na noite de quinta-feira (19) que reduzirá em R$ 0,12 por litro o preço médio de venda de gasolina ‘A’ para as distribuidoras nas suas refinarias, que passará a ser de R$ 2,81 por litro, queda de 4% em relação ao preço anterior.

Já o diesel será elevado em R$ 0,25 o litro, alta de 6,6%, reduzindo a defasagem que o combustível registra em relação ao mercado internacional.

No fechamento de quarta, o diesel estava 14% abaixo do preço internacional, segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), enquanto a gasolina registrava defasagem negativa de 5%.

“A estratégia comercial que adotamos na Petrobras nesta gestão tem se mostrado bem-sucedida, sobretudo no sentido de tornar a Petrobras competitiva no mercado e ao mesmo evitar o repasse de volatidade para o consumidor. Uma prova disto é que ao longo deste ano, mesmo com o valor do brent mais alto que no ano passado, os preços dos nossos produtos acumulam quedas, muito diferente do que aconteceu ao longo de 2022”, afirmou no comunicado de reajuste de preços Jean Paul Prates, presidente da Petrobras.

Com queda do diesel e alta da gasolina, uma questão que fica é como o mercado deve reagir a esse anúncio, em um contexto de alta recente do petróleo em meio à tensão geopolítica com o conflito Israel-Hamas. Para analistas, o saldo final é positivo, ainda que as ações registrem uma sessão de forte volatilidade. Às 10h11 (horário de Brasília), os ativos PETR3 subiam 1,07% (R$ 41,71), enquanto PETR4 avançava 0,60%, a R$ 38,57, também em um novo dia de alta do petróleo, com o brent batendo US$ 93 o barril, em meio à tensão geopolítica com o conflito Israel-Hamas. Contudo, os papéis viraram para perdas e, às 10h45, PETR3 caía 0,80% (R$ 40,93) e PETR4 tinha baixa de 1,17% (R$ 37,89).

Conforme destaca o Itaú BBA, a empresa apontou que, para a gasolina, o fim da época de condução significa maior disponibilidade e desvalorização do produto em relação ao petróleo. Para o diesel, por outro lado, a procura global sustentada e um aumento sazonal esperado resultaram numa valorização do produto em comparação com o petróleo.

Como a Petrobras está no limite da sua otimização operacional, incluindo a realização de importações adicionais, tornou-se necessário fazer ajustes para se reequilibrar com o mercado e com seus próprios valores marginais, ressaltou o banco.

“Com base nas nossas últimas estimativas da faixa de preço da gasolina, a empresa ajustou seu preço para perto do limite superior da banda. Para o diesel, de acordo com nossas estimativas, a Petrobras parece visar o centro do faixa de preço, que deve representar o custo de oportunidade da empresa, considerando o mix entre produtos refinados e importados. Acreditamos que esses ajustes sinalizam o compromisso da Petrobras com a execução da política de permanecer dentro da faixa de preços, evitando volatilidade para o consumidor”, avaliam os analistas.

Na visão do Goldman Sachs, a gasolina da Petrobras (que representa cerca de 20% dos volumes de refino) atualmente opera com uma margem de refino negativa. Por outro lado, nota que os crack spreads (diferencial entre o preço do petróleo bruto e os produtos petrolíferos extraídos dele) do diesel da Petrobras (que representa cerca de 40% dos volumes refinados) permanecem saudáveis (especialmente após os recentes aumentos de preços), o que, em suma, devem mais do que compensar as fracas margens da gasolina.

O JPMorgan destaca que, embora o corte da gasolina tenha sido uma surpresa, o aumento do diesel foi merecido, ainda que pareça um pouco tímido.

“Após os reajustes de preços, estimamos que os preços da gasolina e do diesel ficariam com desconto de 8,3% e 8,9% [frente a paridade internacional], respectivamente. De qualquer forma, este é o segundo aumento no preço do diesel da nova gestão da Petrobras e acreditamos que deva ser bem recebido pelos investidores”, avaliou o banco em relatório logo após o anúncio, destacando que esperava reação positiva ao anúncio.

O Bradesco BBI, por sua vez, apontou que essas mudanças de preços estão alinhadas com a política da empresa, que tenta permanecer dentro de uma faixa de paridade de importação e valor marginal.

“Os preços da gasolina já oscilam acima da paridade de importação há algum tempo e, após o corte, o preço será agora negociado dentro da faixa proposta. Para o diesel, os preços têm ficado ligeiramente abaixo do valor marginal e, após o aumento, o preço também está em linha com a faixa pretendida. O impacto geral sobre a Petrobras deve ser positivo de uma forma líquida positivo e estima-se que impactará o FCFE [Fluxo de Caixa Livre para o Acionista] anualizado da empresa em aproximadamente US$ 1,2 bilhão”, avaliam os analistas do BBI, que possuem recomendação de compra para PETR4.

O Goldman Sachs também tem recomendação de compra para PETR4, com preço-alvo de R$ 42,40 (potencial de alta de 11% frente o fechamento da véspera), enquanto o JPMorgan e o Itaú BBA possuem recomendação neutra ou equivalente, com preços-alvo respectivos para os ativos preferenciais de R$ 35,50 (queda de 7%) e R$ 38 (queda de 1%).

Por Lara Rizério IM/Central de Jornalismo A Digital Sistema de Comunicação